Caixa de Quase Nada

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Câmera escura apontada para a Av. Paulista, disponível para manipulação do público.
Etiqueta explicativa para manipulação da câmera escura.

PROJETO MEZANINO DE FOTOGRAFIA – 2005 CURADORIA: HELOUISE COSTA
EXPOSIÇÃO: FÁTIMA ROQUE 31 de Maio a 10 de Julho

Texto da curadoria:

As inscrições de Fátima Roque ou quando o olho é capaz de tatear
Helouise Costa Uma das operações recorrentes da fotografia contemporânea consiste em retomar procedimentos técnicos primitivos, ou mesmo anteriores à própria invenção da fotografia, como meio de evidenciar os limites da prática fotográfica. Esse é o caso da pinhole, recriação da câmera escura utilizada no Renascimento. Trata-se de um recipiente provido de um orifício, que possibilita o registro de imagens sobre um suporte sensibilizado colocado em seu interior. É do uso dessa técnica rudimentar que nasceu a série “Caixas de quase
nada – inscrições de D. Cândida”.
Na pinhole, frente à impossibilidade de visualização prévia da tomada, o ato fotográfico transforma-se numa experiência “mais sensitiva e tátil do que propriamente visual”, como avalia Philippe Dubois.
O fotógrafo deixa de ser o grande olho que determina enquadramentos, organiza composições e aprisiona instantes decisivos, para se tornar o agente de um ritual que se dá às cegas, dilata a temporalidade e flerta com o acaso. É do registro de uma experiência sensível que estamos falando aqui.
Para Fátima Roque o ato de confecção das imagens, que chega a durar até vinte minutos, é o passaporte para o seu trânsito na cidade do Rio de Janeiro.
Acostumados às fotos espetaculares e assépticas da cena urbana carioca, veiculadas como atrativos turísticos pela mídia, causa-nos estranhamento observar as imagens deformadas e nebulosas, que nos são dadas a ver no fundo de pequenas caixas de madeira. O achatamento da perspectiva promove a desierarquização e o embaralhamento do espaço, enquanto as marcas residuais do cotidiano, visíveis na superfície das imagens, reforçam sua dimensão tátil. Estátuas ganham ares humanos, homens transmutam- se em sombras fantasmáticas, chamas de velas confluem como rios de luz e uma bicicleta afoita desafia as leis da gravidade.
Ao abolir a ditadura da visão em favor da idéia de inscrição, Fátima nos lembra que a imagem não é mais que o resto, o quase-nada de nossa experiência primeira no mundo. Porque, afinal, viver não é sinônimo de contemplar.

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